sábado, 13 de agosto de 2016

lâmina

vez por outra, passando a mão pelos pelos crescentes do corpo, pensa que deveria tirá-los.
pensa o tempo inteiro
que deveria tirá-los. mas ainda assim passa a mão
e parece que sente um prazer delicado na aspereza ou mesmo um prazer indelicado por aqueles fios crescentes que
sempre voltam,
porque sempre voltam,
mesmo cortados, mesmo tirados fora, descartados,
sempre voltam.

e ela consegue enxergar nesse ato uma redenção
- pelo erro da lâmina que os puseram ralo abaixo -
consegue enxergar uma luta selvagem
pra perfurar os poros e cada vez despontar sabendo que,
mesmo assim,
serão despojados,
mesmo assim,
escorrerão com a água
e perderão seu habitat natural.

e por isso,
por esse ato de coragem,
é que ela passa as mãos
pelos pelos,
e pensa que deveria tirá-los,
e como deveria tirá-los

se brevemente ou cruel