quinta-feira, 7 de abril de 2016

sonolências

Éramos pessoas tão aleatórias. Fim de tarde, você soprava pedaços de algodão para eu ir buscar no ar com os braços esticados, nos meus voos noturnos. Mas eles se prendiam aos fios de cabelo, fios de desejo espalhados pelos nós. Desnivelada, caía do voo, algodão pendendo nos pés, coração luminoso: “você vive no ar, tem que pôr as costelas na cama”.

Descida,
mas nunca inteiramente carne. Nos olhávamos, éramos dois pedaços de algodão quase intocáveis, comprimindo-se sobre os lençóis. Úmidos, algodões atordoados. Éramos duas frações de segundo que se desmanchariam logo em seguida. Feito açúcar. Algodão na boca – desmanchado – doçuras do passado.

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