quarta-feira, 21 de setembro de 2016

bodas de chumbo

vai acordar
passar a mão na minha cabeça
no seu cabelo
não vai alisar minhas pernas
não vou tocar seu sexo
agora o assunto é sério
é do pescoço pra cima
que a gente se olha
não vou lhe amassar
com as mãos
é com as pontas dos dedos
que a gente se toca
e quem se toca?
ninguém se toca quando a
hora chega
mas a consciência vai se expandindo
aos poucos
e a gente vai caindo em si
como caem meus cabelos
quando desembaraçam no chuveiro
e você nem ligava
pros fios colados na parede
e agora liga
e eu nem ligava
pros tubos de shampoo vazios
e os restos do sabonete que
ninguém repunha
e agora ligo

enquanto nos decidimos
se não nos ligamos mais
se ainda dá pra ir juntos pra festa
como contar aos pais
enquanto passa a mão no meu cabelo
na sua cabeça
e a última poeira do
desejo
vai sumindo
pelas bordas da cama

Um comentário:

  1. Meu. Deus. Do. Céu.

    Eu li isso três vezes, porque olha, eu sinto sempre essa inveja arrasadora de quem sabe dizer TUDO em versos. Tenho esse problema de escrever longos textos e achar que não consegui dizer tudo o que queria. Daí que quando encontro poesias incríveis como a tua, tão limpa, clara, direta, eficaz e ainda doce e sincera... Quando encontro eu viro fã. Porque acho raro esse dom. E que bom que você tem! Que bom. Pra mim, também.

    Eu tava passando o olho num texto antigo meu e te achei lá. Espero muito que você volte a escrever logo.

    Um beijo.

    ResponderExcluir